Os professores da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Fernanda Esperidião, do Departamento de Economia, e Kleber Fernandes, do Departamento de Estatística e Ciências Atuariais, junto com a professora Ana Maria Paiva, da Universidade Federal de Uberlândia, desenvolveram o trabalho intitulado "A lei de cotas no ensino superior: testando a hipótese de incompatibilidade no caso da Universidade Federal de Sergipe".
A partir de informações fornecidas pela UFS sobre o banco de dados de quem ingressou na universidade, os professores apuraram o efeito causal das cotas sobre o desempenho acadêmico. A professora Ana Maria relata o uso de métodos de comparação bruta de média e comparação de média condicional às variáveis observadas no banco. “É um grande desafio porque são alunos diferentes entre si, mas integramos vários métodos e o resultado mostra que, classificando os alunos em termos de desempenho acadêmico, quem ingressou por meio de cotas se sai melhor em relação aos alunos medianos para baixo”, diz.
O trabalho responde à teoria da incompatibilidade do aluno cotista e o ambiente acadêmico, defendida pela literatura econômica de avaliação de políticas afirmativas no ensino superior. Segundo a professora Ana Maria, associada ao Instituto de Economia e Relações Internacionais, o resultado “desmistifica o fato de que há uma incompatibilidade do aluno cotista e o ambiente acadêmico”.
A professora Fernanda Esperidião explica que a ideia do projeto surgiu a partir de uma conversa com a professora Ana Maria, na qual foi questionada se havia trabalho sobre cotas na UFS. Então, a professora mencionou a apresentação do professor Kleber em resposta a um argumento que o desempenho do aluno cotista era inferior ao de ampla concorrência. A partir disso, a professora o convidou para fazer parte do estudo. “Nós três firmamos um contrato de parceria entre as universidades e começamos a pesquisa, utilizando a vasta base de dados da UFS”.
Ainda sobre a motivação do trabalho, o professor Kleber complementa que havia um "inconformismo" de sua parte, pois, ao conversar com colegas da UFS, era questionado sobre resultados específicos das cotas na universidade. “Eles [os colegas] prontamente decretavam que as cotas pioravam o desempenho acadêmico da UFS. A professora Ana Maria e Fernanda Esperidião provaram estatisticamente que as cotas têm efeito positivo”.
No trabalho não foi possível analisar os resultados acima da mediana, deixando um espaço para trabalhos futuros na área a fim de “aprimorar essa política de inserção de egressos de escola pública, preto, pardos e indígenas”, destaca a professora Ana Maria.
Os professores Kleber Fernandes e Ana Maria Paiva participaram de uma mesa redonda sobre o presente trabalho conduzida pela professora Fernanda Esperídio no podcast SE é Ciência.
Letícia Monalisa - Podcast SE é Ciência
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